domingo, 26 de julho de 2009

O Maranhão não é dos Sarney!

Sou neta de maranhenses.
Nunca fui ao Maranhão e meus avós, por circunstâncias da vida, nunca mais voltaram depois que saíram de lá.

Falavam com orgulho da terra onde nasceram. Lembro bem de suas feições orgulhosas quando diziam “Sou maranhense!”.
Vieram de lá, em direção ao Rio de Janeiro, com 5 filhas mulheres e uma trouxa de roupas nas mãos.

Era tudo que lhes tinha sobrado: as roupas.
Tinham perdido três filhas (tiveram 8 filhas mulheres, buscando o menino, o sonho de meu avô) nos 20 dias que antecederam a partida da família para o Rio de Janeiro.
As três tinham morrido de pneumonia, sem a menor chance de sobreviverem.
Há pais que suportem perder 3 filhas em 20 dias? Eles também não suportaram e acharam que era hora de sair em busca de “um lugar melhor para se viver”.

Saíram, foram para o Rio, e venceram.

Desde muito pequena, ouvia de meu avô todos os dias: “Filha, nada nem ninguém consegue vencer o trabalho.”

Uma de minhas melhores lembranças da infância é a de meus avós, já idosos, saindo para trabalhar. Com afinco, com garra, com honestidade.

Minha avó, mulher de fé, se formou e defendeu tese depois de casar as 5 filhas.
Depois dedicou seus conhecimentos ao trabalho junto a menores desprovidos e desassistidos.

Meu avô era um homem dos livros. Com ele aprendi que “ler e saber não ocupam lugar”. Depois que ele morreu, 6 meses se passaram até que minha avó conseguisse doar toda a biblioteca.
Era Conselheiro da Associação dos Empregados do Comércio do Rio de Janeiro, o que não é pouca coisa para um menino criado em Codó, saído do Maranhão só com as primeiras letras e que se transformou em “Guarda-Livros” (hoje se chama Contador) das melhores lojas do comércio do Rio.

Eram dois guerreiros. Dois vencedores. Duas pessoas que me ensinaram quase tudo que sei.
Ambos lutaram e me ensinaram a lutar por um país melhor, mais justo, mais fraterno.

Com meu avô aprendi que “quem não vive para servir, não serve para viver”. Com minha avó aprendi a crer e confiar em Maria, a Mãe de todas as mães.
Eles me ensinaram a fé no homem, a fé no amanhã e, principalmente, a fé no trabalho honesto.

Hoje, lendo o Noblat, vi que 'Sarney é a ponta de um iceberg chamado Maranhão'
Ainda bem que os dois já se foram. Morreriam de tristeza, se vivos fossem.

Escrevo por vocês e para vocês, queridos, amados avós, que queriam um Maranhão justo e fraterno, um Brasil decente.

Onde quer que vocês estejam, intercedam, se puderem, pelos maranhenses, seus conterrâneos, seus irmãos. Eles estão tristes, envergonhados, como vocês estariam.

Daqui peço a benção de vocês para mim e para meus filhos e neto.

Ainda haveremos de ver alguma coisa mudar, e tudo há de acontecer.